ESTOJO NA MOCHILA

“Estojo” pretende incrementar a participação dos jovens, através das artes performativas, numa acção comunitária que lhes dá voz.

Numa era em que o acesso à informação não é um privilégio, mas um dado adquirido, em que no mesmo segundo em que uma bomba do outro lado mundo explode qualquer jovem tem essa informação literalmente no seu bolso, verificamos uma diminuição de interação pessoal e um aumento de problemas mentais em idade escolar. O que fazer com o mundo que temos no bolso das calças, como podem os jovens filtrar, questionar e apropriar-se dele?

“​Se tivesses a possibilidade de falar dois minutos numa transmissão em directo, em que todo o mundo te estivesse a ouvir, o que dirias?​” é a premissa da qual partimos para trabalhar, num período inicial de três meses, com grupos heterogéneos de jovens da cidade de Faro.

Trabalharemos esta premissa em conjunto com o binómio conceptual TURVO/NÍTIDO. Problematizaremos o contágio, as influências, a liberdade e a nitidez: de movimentos, de palavras, de discernimento, de paixão, pensamento. Mas NÍTIDO não existe sem TURVO. O Nítido mostra uma coisa na sua perfeição, mas pode quebrar o poder da imaginação. Queremos incitar o pensamento sobre o mundo turvo que não nos deixa sentar confortavelmente, fazemos questão de querer ver, querer ver mais perto, tocar até.

Esta academia procura dar continuidade a grupos de teatro com jovens já existentes em 2020 e criar mais dois em 2021, promovendo assim a formação destes grupos, com base nas disciplinas do teatro: oralidade, movimento, criatividade, improvisação, imaginação, assente nos métodos de trabalho de uma companhia profissional de teatro.

Em paralelo ao desenvolvimento das competências teatrais consideraremos o desenvolvimento de outras competências, quais danos colaterais desejados: desenvolvimento da auto-estima e auto-confiança, reflexão abrangente sobre a contemporaneidade, capacidade de argumentação, noção de espaço, noção de grupo, noções temporais, escuta. Capacidade de resolução de problemas concretos através da criação teatral. Consciência do eu e do outro.

Atendendo ao público Alvo, dos 13 aos 18 anos, procuramos com esta academia desenvolver o espírito crítico dos jovens envolvidos no projecto e do público. Levaremos os jovens a reflectir sobre o mundo que os rodeia e a actualidade de uma realidade em constante mutação.

A inclusão de agentes locais com atividade própria insere-se numa lógica de continuidade orgânica após as apresentações no Festival, ainda esta possa vir a ser acompanhada pela equipa do projeto. “Estojo” é um projeto virado para a autonomia em que os jovens se tornarão também os líderes dos seus grupos de teatro. Procuramos impactar o público em duas camadas: os jovens que participam ativamente no “Estojo” e cujas capacidades de argumentação, pensamento crítico e criatividade através das artes prevemos ver desenvolvidas e o público que assistirá às performances – objeto artístico feito por jovens para jovens, resultado de uma reflexão sobre o mundo, o eu e o outro, agindo como recetor – amostra da premissa inicial.

Apesar da existência de vários projetos de teatro com a comunidade consideramos que inovação de “Estojo” se prende com o público alvo ao qual se destina, com o objetivo de autonomia e continuidade dos grupos, com o desenvolvimento de uma reflexão alargada sobre o mundo e a realidade segundo um binómio conceptual intrinsecamente contraditório.

“Estojo” contará com três meses de trabalho intensivo (início em Janeiro 2020) de formação teatral e construção de um espectáculo. Prevemos o envolvimento dos seguintes agentes locais, Improviso, Paná Paná, mais dois a confirmar. Cada grupo será orientado por um ou dois actores encenadores profissionais, com ligação ao território e aos grupos já existentes. A direcção artística geral de “Estojo” é de João de Brito.

Além das consequências indeléveis e in quantificáveis do projecto temos como objetos de impacto principais e passíveis de avaliação: continuidade autónoma do projecto, números de intervenientes e consequências nos seus hábitos de participação e fruição cultural, impacto na participação activa em movimentos sociais e associativos.

O Estojo vai estar dentro da Mochila, ou seja, os três grupos de jovens vão fazer parte da programação da MOCHILA – Festival Internacional de Teatro para a Infância e Juventude, juntamente com companhias profissionais.

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