PALCO SEGURO - Projeto artístico de intervenção social

O projeto “PALCO SEGURO” responde à necessidade urgente de intervenção junto de crianças e jovens entre os 10 e os 15 anos, residentes nas freguesias da Conceição e Estoi (Faro) e de Quarteira (Loulé), que se encontram em situação de risco psicossocial e revelam sinais persistentes de comportamentos violentos ou desajustados, com risco real de institucionalização a curto prazo. Trata-se de jovens acompanhados por estruturas como os CAFAP e as CPCJ, cuja trajetória familiar e emocional é marcada por disfunções graves e falta de apoio adequado. Na Conceição e Estoi, o contexto rural e isolado está associado a pobreza envergonhada, frágil rede de serviços sociais e educativas, e baixa participação em atividades estruturadas. Esta ausência de estímulos e acompanhamento favorece o isolamento a apatia e a desregulação emocional. Em Quarteira, os desafios decorrem sobretudo da pressão urbana, multiculturalidade sem integração eficaz e sobrecarga laboral das famílias, o que reduz drasticamente a presença parental e a supervisão. Em ambos os contextos, os jovens vivem em ambientes com pouca previsibilidade, baixa validação afetiva e escassas oportunidades de autorrepresentação. Estes fatores estão na origem de comportamentos agressivos, impulsivos, de oposição à autoridade ou de risco para terceiros, que se tornam formas de expressão emocional quando não existem alternativas seguras. Segundo o Relatório Anual da Atividade das CPCJ 2022 (CNPDPCJ), 24% das sinalizações em Portugal referem-se a comportamentos que comprometem o bem-estar e segurança do próprio ou de terceiros. Quando não tratados, estes comportamentos tendem a agravar-se, conduzindo à aplicação de medidas de acolhimento residencial — muitas vezes irreversíveis e despersonalizantes. A Carta Social de Faro confirma esta tendência, referindo mais de 300 processos anuais nas CPCJ locais entre 2014 e 2017, com forte incidência em situações de violência doméstica, negligência e absentismo.

O Plano de Desenvolvimento Social de Loulé (2024– 2028) identifica como prioritária a intervenção junto de jovens em comportamentos desviantes, enquanto o PDS Algarve 2023– 2030 destaca a necessidade de prevenir trajetos de exclusão entre adolescentes. Estes jovens, em regra, experienciam quebras na relação com a escola, baixa autoestima, dificuldade em regular emoções e, com frequência, recorrem à força, à ameaça ou à indiferença como estratégia de sobrevivência social. Sem espaços de escuta ativa ou expressão simbólica, o sofrimento manifesta-se em atos de violência verbal, física ou simbólica, seja contra si próprios, seja contra os outros. A alienação digital agrava o fenómeno: jovens emocionalmente isolados expõem-se a conteúdos extremistas ou misóginos, como os movimentos “incel”, encontrando validação em narrativas de exclusão e ódio. As causas deste problema são complexas e interligadas: desestruturação familiar, pobreza persistente, ausência de presença adulta significativa, falta de articulação entre a escola e os serviços sociais, e ausência de respostas precoces de mediação. Os efeitos são visíveis: insucesso escolar, retraimento, institucionalização e rotulação social, que encerram o jovem num ciclo de exclusão difícil de inverter